PESQUISA IDENTIFICA PONTO
VULNERÁVEL DE DOENÇA DO CACAU
Se
depender de uma equipe de cientistas da Unicamp, a bruxa não estará mais solta
nos cacaueiros da Bahia. Ou melhor, a vassoura-de-bruxa -fungo que é a
principal pedra no sapato da produção de cacau no país.
Em artigo
científico recém-publicado, os pesquisadores elucidaram o que parece ser um
mecanismo-chave do metabolismo da vassoura-de-bruxa e mostraram que, se ele for
desligado, o parasita deixa de crescer no cacaueiro.
Os
resultados, por enquanto, foram conseguidos em laboratório, mas a equipe
coordenada por Gonçalo Pereira tem como objetivo transformar a descoberta num
fungicida que possa ser aplicado nas plantações do país.
MMA
Pereira
compara o embate entre o cacaueiro e seu parasita a uma luta de MMA.
"Imagine
que um lutador fortão, um Anderson Silva, está enfrentando um cara magrinho.
Ele agarra o pescoço desse magrelo, aperta, aperta, e nada de esse cara
desmaiar. A questão é que o magrinho tem dois pescoços. Não adianta apertar só
um", diz o pesquisador.
A
analogia se refere ao fato de que o fungo da vassoura-de-bruxa, o Moniliophtora
perniciosa, tem duas estratégias diferentes para respirar --os tais
"dois pescoços".
A
diferença entre as estratégias está nas duas substâncias distintas que o fungo
usa para processar o oxigênio nas mitocôndrias, as usinas de energia das
células.
O estudo
da Unicamp mostrou que o fungo usa cada uma dessas substâncias em fases
diferentes do seu ciclo de vida. Uma delas parece ser a preferida quando a
vassoura-de-bruxa está afetando tecidos vivos do cacaueiro,
"esgueirando-se" pelos espaços entre as células da planta.
A segunda
substância é mais empregada pelo fungo na fase avançada da doença que ele
causa, quando o parasita passa a "devorar" tecidos do cacaueiro que
já estão mortos, diz a pesquisa.
Não se
trata de mero detalhe bioquímico. O estudo verificou que a primeira forma de
respiração celular é importante porque ela facilita a sobrevivência do fungo
justamente quando a planta está lutando para expulsá-lo de seu organismo.
A
substância usada nesse tipo de metabolismo impede que o fungo seja seriamente
danificado por defesas bioquímicas do cacaueiro.
Ficou
claro, portanto, que as células da vassoura-de-bruxa tinham "dois
pescoços". Um deles já é conhecido em outros fungos --há fungicidas
comerciais que atacam a substância, mas a ação deles não é suficiente para
deter a doença na lavoura.
"O
que ainda não existe são defensivos capazes de bloquear a outra via",
explica Daniella Thomazella, também autora da pesquisa ao lado de Pereira e do
doutorando Paulo Teixeira.
Em
laboratório, porém, a equipe da Unicamp conseguiu usar um inibidor que bloqueia
a forma de respiração que hoje escapa aos fungicidas. E, nesses casos, o
crescimento da vassoura-de-bruxa cessou totalmente.
"O
problema é que os inibidores que nós usamos são muito instáveis. Temos de achar
maneiras de fazer com que ele dure no campo", afirma Pereira.
A
vantagem, de qualquer modo, é que se trata de uma substância específica do
organismo do fungo. Por isso mesmo, borrifar a planta com um bloqueador dessa
via não faria mal a seres humanos.
O
problema é que os inibidores que nós usamos são muito instáveis. Temos de achar
maneiras de fazer com que ele dure no campo", afirma Pereira.
REINALDO
JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA E SAÚDE"
EDITOR DE "CIÊNCIA E SAÚDE"
Folha de São Paulo
Editoria
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